quinta-feira, 31 de maio de 2012

Aos meus 15 anos


Viva
não pense em quando as coisas vão mudar
mude-as
não pense que as coisas melhoram ou pioram
elas apenas existem
não pense no que irá se tornar
apenas se torne
não pense que será mais atraente, mais forte, mais gentil
apenas seja
acha o que?
que minhas espinhas doem menos que as tuas?
você apenas começa a suportar mais a dor
e quanto mais você vive
mais você sabe o que é feio, chato e desonroso
muitos irão lhe dar conselhos
irão lhe dar abraços
e sorrisos
apenas viva, garoto
apenas viva.
corte seu cabelo, corra, grite, traia
minta
ouça os mais velhos, eles sabem do que falam
quando uma garota te abraça muitas vezes, ela não quer ser só sua amiga
antes de beber, pense em como você vai ficar amanhã
leia, leia, leia e leia
exercite-se
respeite as mulheres
não se preocupe com salários, apenas faça o que gosta
viaje, conheça, descubra, erre
depois de ler essa carta, queime-a
beba o quanto puder e não puder
para esquecê-la
é muito chato saber o que virá.


CS

terça-feira, 15 de maio de 2012

Na preguiça, no escuro


Uma ruela escura e com muros dos dois lados. Em cima, no horizonte, prédios gigantes, no lado esquerdo bem iluminado, letreiros imensos “ENCONTRE JESUS” “GANHE DINHEIRO FÁCIL” “VIVA”. No outro lado tudo era escuro, prédios cheios de mofo, sem pintura, letreiros meio apagados e mensagens em lençóis “TRAGO A PESSOA AMADA EM 24 HORAS” “JESUS VOLTARÁ” “MORRA”.

Na frente não havia letreiros, não havia prédios, a ruela dava numa avenida movimentada, um atalho para a casa do namorado, era só atravessar a ruela, apertar o botão e esperar 30 segundos, atravessar a rua e tocar a campainha, pronto, o namorado apertava outro botão, ela subia e era só alegria, muito amor até o outro dia.
Ventava, seus cabelos gritavam pra trás, uma mão no bolso, fumaça saía da boca por culpa do frio escaldante e por ventura do cigarro que agora estava na mão desprotegida do frio, a fumaça saía da boca feito em um trem daqueles antigos. Podia fazer outro caminho que não a ruela, porém este demoraria bem mais e então isso a fez pensar. Pensou e decidiu enfrentar o medo que tinha da ruela escura, pensou e por pensar em poupar dez minutos de caminhada ela decidiu enfrentar a escuridão. Entrou na ruela pisando forte, a bateria o celular acabou, acabou a música. Escutava seus passos batendo nas pedras pequenas, 40 metros de ruela, cara fechada, certo medo e a vontade de sair dela logo. Pensou em voltar e fazer o outro trajeto, mas quando olhou pra trás desistiu, pensou ser bobagem e seguiu em frente. Lá no fim ela enxergava os carros passando rapidamente, alguns ônibus, buzinas e pessoas cruzavam na frente da ruela, seguia com passos firmes, seu único desejo era sair dela logo.
As sombras cruzavam lá na frente e isso não tinha importância alguma, não tinha importância alguma até que uma das sombras entrou na ruela. Era homem, parecia ser grande e estava encapuzado.
Na cabeça passava apenas o pensamento de que algo muito ruim poderia acontecer, poderia ser estuprada, morta, roubada. Ser roubada era o de menos, só queria sair da ruela, ver o namorado e sair sem maiores estragos.
O tempo passava rápido, os carros zuniam, os passos apertaram, só queria cruzar com o elemento e sair logo da ruela, era passo passo passo, também já podia ouvir os passos dele, tudo voava, os letreiros piscavam loucamente, os lençóis balançavam, as sombras rasgavam lá na frente.
A respiração se tornara ofegante, o cigarro acabou, a música acabou, o coração prestes a explodir e então tudo para, o sujeito cruza pela sua esquerda e nem olhou pra ela. Alívio, agora faltava pouco para o fim da ruela e se desfez da preocupação, ufa. Soltou a respiração que estava presa e pensou pronto, agora é só questão de minutos pra sair desse lugar.
Então escutou passos atrás, tudo volta, coração dispara, carros zunem, letreiros gritam, lençóis se batem, sobras rasgam, o cigarro acabou e a musica parou. Olhou pra trás apavorada e lá estava o rapaz encapuzado novamente, agora ele a olhava e também falava “Seguinte guria, não grita, não faz nada que tu vai fica bem, só me passa o dinheiro e o celular”
Ela não conseguia pensar, estava tomada pelo medo, se virou e tentou correr, avançou uns metros, estava quase na rua movimentada, os carros agora cruzavam mais pertos, a casa do namorado estava mais perto, já conseguia enxergar o botão que tem que apertar pra cruzar a rua e quando foi gritar uma mão na boca a impediu, se debateu, o casaco de couro cedeu pra um material prateado, se deixou entrar, o casaco de couro que não é couro de verdade, tem cor azul e cedeu, deixou entrar, a camiseta por baixo do casaco fez o mesmo, cedeu e deixou entrar, a pele macia da barriga entrou na dança e também o fez, cedeu e então veio a dor, ela caiu, mais uma vez a faca entrou, em outro lugar agora, mas o casaco, a camiseta e a pele repetiram sua atuação de uns segundos atrás e cederam.
Era isso, era o fim, a cabeça se foi pra esquerda, viu os carros agora cruzando lentamente, o botão, a casa do namorado conseguiu imaginar e até mesmo se viu lá, apertando o interfone.
Sentiu as mãos do sujeito pegando suas coisas, ele levou o cigarro e o celular, deu uns passos e voltou, procurou no bolso da calça e achou a carteira e o isqueiro e ai sim se foi, ela o viu correndo até o fim da ruela e entrando na paralela com a rua movimentada. Não tinha forças para algum grito ou caminhada, deitou a cabeça pra trás, pensou nos passos que faltavam pro fim da rua, no namorado, na vida toda pela frente, na vida toda para trás. Pensou então no rasgo na pele, passou a mão pela barriga e ergueu-a até poder ver, estava cheia de sangue. A vista por uns instantes se fechou e quando se abriram ela olhava diretamente para o letreiro meio apagado que estava no prédio no horizonte escuro a sua frente. No letreiro estava escrito “MORRA”. E então, ela assim o fez.


 MA

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Jovem Poeta

Um velho senhor
Um jovem poeta
Escrevia uma carta
A sua linda neta


A cada palavra
Uma lembrança
Descrevia o velho
Para a jovem criança


Olhava para o lado
Com um pouco de medo
Pois daquela caneta
Saía alguma segredo


Contava para a menina
Coisas do passado 
Aproximando mais a vela
Com o olho já cansado


Finalizando a carta
A fechou com cuidado
Se deitou na cama
Com o braço apoiado


Lembrava da falecida esposa
Dos já maduros filhos
E o trem já freava
Com o termino dos trilhos


Se deitou por completo
E o frio repentino
Sua vida foi boa
Aceitou seu destino


A neta no quarto entrou
Olhou o velho deitado
Se segurou no bidê
Que estava bem ao lado


Em cima do bidê
Havia uma folha
Muito assustada
Só havia uma escolha


A menina segurou a carta
E lembrava do jovem poeta
Mas nada entendeu
Pois era analfabeta


CA

sábado, 12 de maio de 2012

Banco da praça


Você está sentado, ouvindo suas músicas preferidas no fone de ouvido, vendo o tempo passar.Então eles chegam, um casal, mais ou menos da sua idade. Ficam trocando olhares carinhosos, um segura a mão do outro, se abraçam, estão em seu próprio mundo de carinho... e você está lá do lado...poucos passos. Você tenta não olhar, fingi não ligar, é só você e seu fone, sempre foi assim.Mas é inevitável... você começa a pensar... você começa a lembrar que eles não são os únicos. Seus amigos também estão assim, por onde você olha tem duas pessoas compartilhando carinho. Durante toda a sua vida sempre tinha um casal...e você não estava nele. Aí você pega seu velho escudo enferrujado, fica falando pra si mesmo em sua cabeça as idiotices que um cara tem que fazer para conseguir o afeto de uma garota, fica lembrando de todas as vezes que seus amigos fizeram papel de idiota e como é patético o comportamento de um casal meloso. Sim, você é o senhor coração de rocha, sem sentimentos, intocável... mas até quando?Uma hora sempre bate aquela dúvida, aquela que te faz ficar pensando a tarde inteira, que te faz ficar longe dos amigos, que te faz abraçar o travesseiro na noite."O que está errado?" Aí você está pensando "por que não eu?"Por que não é você o cara que está em um banco sentado com alguém, conversando, vendo o maldito tempo passar?"O que tem de errado em mim?"Você então lembra do passado, lembra de quando achava que era um cara engraçado, lembra de quando achava que tinha verdadeiros amigos, lembra de quando já chegou perto de estar dentro desse mundo. Lembra das garotas que mais chegaram perto do seu intimo, aquelas garotas que sempre deram risadas de suas piadas copiadas de um amigo de outro grupo social, que sempre conversavam com você sobre os seus assuntos idiotas. Você achava que eram elas, então você ia atrás delas, que nem um cachorrinho.Porém, você nunca chegou lá, nunca deu um beijo que você iria facilmente esquecer por ser tão normal nelas, nunca chegou na sala de alguma delas e viu a garota sair correndo em sua direção, te abraçar e falar pras amigas "Tchau, gente! Tenho que ir". Você sempre quebrou a cara com elas. Foi sempre assim, um dia alguma delas saia do seu lado e ia correndo abraçar um outro cara, um cara que ela conhece não faz nem duas semanas, um estranho pra você. Elas olhavam pra você por cima do ombro dele e você não podia fazer nada mais do que dar aquele sorriso forçado que já te faz um profissional em algo na vida.Em parte, foram essas garotas que te fizeram assim. Foi com essas experiências que você criou os seus conceitos perfeitos e infalíveis sobre mulheres. Aí você volta ao presente. Mas continua pensando "o que tem de errado em mim? Sou feio? não sou engraçado? não tenho estilo? não tenho dinheiro? não sou uma boa pessoa?"Você sempre se perguntou isso, estava sempre querendo saber qual era a equação perfeita ou, pelo menos, o que te faria conseguir. Festas, danças, se enturmar com várias pessoas... você tenta, mas falha como sempre. Foram tantas as vezes em que você estava cercado de pessoas em um ambiente desconhecido, ao mesmo tempo em que você se sentia bem, você sabia de alguma forma que aquele não era o seu lugar, que você não fazia a mínima diferença lá. Aí você percebe. Você não faz diferença. Você é tão comum e tão sem graça que ninguém se importa se você está lá ou não.Não faz diferença se você vai pra festa, não faz diferença se você vai pra aula, não faz diferença se você estava nas grandes férias na praia, não faz diferença se você ou outra pessoa pegou a caneta dela.Ninguém liga... e você sabe bem disso.O casal sai do seu lado. Agora você pode olhar para onde quiser, não tem mais que ficar olhando pra esquerda, como se estivesse esperando um amigo que vai te encontrar e conversar com você... você sabe que isso não vai acontecer. Aí a bateria do mp3 acaba e você fica sem música.


PJ

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ir para uma aula chata de manhã


Começando o processo já em casa, é necessário ter dormido apenas algumas horas, ficar adiantando o despertador e olhando para o teto do seu quarto condenando a si mesmo por todos os erros cometidos em sua vida, fique assim por alguns minutos e quando você aceitar a condição de que irá sair do seu lindo e aconchegante leito, vá se arrumar.Abra a porta do guarda-roupa, perceba que ele vai estar mais interessante, você vai prestar atenção na quantidade de roupas que você possui, quantidade de calçados, nesse momento até a porta de seu guarda roupa se torna interessante, escolha com sabedoria suas roupas, aquele casaco grandão para agüentar esse rigoroso frio do sul cabe muito bem nessas horas, terminando de se arrumar, vá ao banheiro lavar seu rosto e escovar os dentes, olhe fixamente para o espelho e diga a si mesmo ‘’vai passar, você sabe, semestre que vem você não precisa mais agüentar isso, vai passar, cara.’’Não tome café, isso é essencial no plano, coma algo e vá pegar seu ônibus .Fique em pé no ônibus para não sentir sono, pense na desgraça que lhe vem pela frente, pense na vida, olhe as variações e formas de árvores que existem no trajeto, quando você chegar no campus, desça do ônibus, respire aquele ar puro e acadêmico que lhe adentra as entranhas e comece a caminhar em direção a sua sala de aula.Ande pelos corredores do prédio do seu curso, veja como as pessoas que entram nas salas estão felizes, menos você e os seus colegas, pois você está indo para aquela aula que ninguém gostaria de estar, aquela aula que ao pisar na sala você sente uma força imensa lhe puxando para desistir da vida. Entre na sala, olhe como as pessoas estão pálidas e sonolentas, elas se perguntam como você teve coragem de entrar na sala. Olhe bem na cara de cada aluno e por final olhe para seu professor, você observa atentamente e percebe que nem mesmo o professor gostaria de estar ali, ele preferia ver tinta secar a dar essa aula insuportável para tantos, porém necessária. Feito todos  esses passos, caminhe lentamente em direção a sua classe reservada no final da sala junto com seus colegas tão desinteressados na aula quanto você, após se acomodar na cadeira, eleve seus braços a sua frente, cruzando-os; apóie sua cabeça neles, feche os olhos e espere o sono vir. Cuide para que seus membros não fiquem dormentes.



PJ

domingo, 29 de abril de 2012

Poeminha


Proferi palavras pérfidas preterindo paixões
Pálidas, presentes... promíscuas, podres... piores...
Putarias perfiladas... priorizando palavrões
Permiti-me pegar pesado... patife
Pensei pouco, pois
Pobre princesa...

Perdi palácios, poesia, prazer...
Pedi perdão...
Perdi Você...
... por quê?
Por nada não
Só pra brincar com a letra Pê!



BS

Convite


Arte é sorte
Arte é morte
Arte é vida em toda parte

Arte é voz
Arte é luz
É a estrela do meu norte

E se um dia no querer-te
Sufocando a dor do forte
Minha Arte convidar-te ao passeio mais bonito
Te direi que minha Arte não se sangra só no corte
Minha Arte vai ao céu muito acima do estandarte
E reflete o meu desejo de alcançar o infinito


BS

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Minha vadia

Lá vai minha vadia...
Desfilando o seu corpo
Não sei se depois de mim
Se atracou no pau de outro.

Lá vai minha vadia...
Tesão da minha punheta
Nela enrabo o meu amor
E não faz uma careta.

Lá vai minha vadia...
Implorando o meu gozo
E se em mim não encontrar
O fará em outro esposo.

E se um dia a minha vadia cessar o meu deleite
Pra pintar n’outro lençol a sua nua silhueta
Direi, vadia minha, peço que não te esqueça
A jeba que aqui jaz, não me serve só de enfeite

Encontrarei no meretrício a tua amiga mais carente
Trocarei minha atenção pela sua coxa, bunda e teta
Carinhoso, a pedirei que abra a minha bragueta
Para beber, assim, inteira, uma garrafa do meu leite.


BS



Quero ser poeta

Sonho em ser poeta
Causar o frio da espinha
Emoldurar as palavras na rima
E pendurará-las na parede dos castelos que protegem o amor são
Tolo, talvez
Mas que fazer se me falta a harmonia para uma boa música?
E me sobra a ânsia de gritar ao mundo o meu (re)sentimento?
Pensa, sofre, escreve, apaga, escreve...
Faltam palavras...
Sobra paixão... e o arrependimento...
Que seria da vida dos amantes, de suas lamentações...
Se não fosse o arrependimento?
Arrependido estou eu
Que busco ferozmente no meio da minha lamúria um motivo pra mascarar a dor... 

E escrevo... e sofro mais...
E pranto... quase mais que antes... e continuo escrevendo... apagando... e sofrendo...
Mas estranhamente me vem o conforto como se alguém me dissesse:
- Calma compadre, vai passar... não conheces a lei do tempo? Que cala, corrói e empedra qualquer sofrimento?
-Conheço, sim. Conheço mais ainda a minha impaciência. Me ajuda, compadre... quero ser poeta!
- Não seja tolo, caro amigo. A poesia não está na falta de alvides das páginas. 

A poesia está na beleza e no sofrimento das coisas ao mesmo tempo!
Impossível? Não... por isso o tormento... Compadre, não queira ser poeta... 

Não faça isso consigo. Sê feliz. Não engrandeça teu desalento.


BS

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Crônica do cotidiano


"Todo dia ela faz tudo sempre igual..." Talvez esta primeira frase dessa canção do Chico Buarque possa nos distrair um pouco, e nos afastar da ideia acerca do nosso cotidiano. Ou melhor, pode nos enganar quanto ao seu conceito verdadeiro. Se não vejamos: será que quando saímos de casa pra trabalhar, estudar, ou o que quer que seja, o nosso estado de espírito não influencia na construção desse "cotidiano"? A mulher à qual o Chico beija no final de cada estrofe da canção todo dia tem um gosto diferente na boca. E assim acontece sempre em nossos movimentos diários. 
            Podemos citar e sequenciar tudo o que fazemos, ou o que estamos predispostos a fazer durante a semana. "Bom, hoje depois que eu escovar bem os meus dentes pela manhã, vou sair de casa, entrar no carro, ligar o rádio e fazer o que eu tenho fazer". Mas e se o pneu do carro furar e eu ficar indignado? E se eu cair no chão e bater a cabeça enquanto escovo os dentes e for pro hospital? E se eu ouvir no rádio que ganhei na Mega Sena? A nossa vida nunca é igual. É pragmático e simplista se dizer que o cotidiano é o "diário". Podemos ter na nossa agenda mental o passo a passo das nossas tarefas. No entanto, não temos controle algum dessa rotina e da maneira que vamos nos sentir. Achamos que temos. Mas isso é pura ilusão.
            Dia desses, fiz aniversário. Sempre gostei de aniversários. Era uma sexta-feira, havia aula, tive que trabalhar... Fiz tudo que se faz no meu "cotidiano", como o conhecemos. Mas lhes garanto que não foi um dia típico. Tudo foi diferente. O gosto das coisas. O cheiro do ar. O carinho das pessoas. A ocasião me influenciou a me sentir diferente. Contudo, fiz tudo o que sempre faço. E engana-se o leitor se acha que me apeguei num sentimento não muito recorrente para reforçar essa tese. Sempre, sem perceber, estamos diferentes. Seja ainda porque nosso time do coração perdeu, ou porque conhecemos o amor da nossa vida na festa do último sábado.
            Cotidiano está longe de ser o conjunto de ações que fazemos todos os dias. Cotidiano são todas as emoções, sensações, e imprevistos que acontecem nos cenários que frequentamos desde o momento em que acordamos. E é isso que nos faz. É isso que nos tange. É isso que a nossa vida representa. Esse é o nosso cotidiano. Sempre beijamos a mulher, ok. Mas quem garante o gosto que sua boca vai ter? E acho que essa é a graça da vida: nunca sabemos se sentiremos gosto de feijão, paixão, hortelã, pavor ou café.

BS

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ideia geral.


Somos estudantes de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e criamos esse blog com a ideia de publicar alguns textos (Contos, cronicas, poemas ou o que der na telha).
A ideia é que a publicação seja feita a cada dois ou três dias, se você, amigo leitor, gostar dos textos aqui escritos, não esqueça que daqui uns dias apresentaremos mais materiais de cunho artístico, como uma grande teia de textos.




Bruno Stefani


Cássio de Souza


Matheus Araujo


Paulo Sergio Dutra da Silva Junior



Pense nisso.


A personalidade é opcional. Você pode assumir várias ou apenas uma, ou se considerar a si mesmo como alguém legítimo, você assumirá o que acredita ser você mesmo. Mas essa legitimidade não está na personalidade em si, apenas na sua crença em relação a ela. Porque as pessoas vivem sob o escopo da fé, elas costumam tomar como absoluto aquilo que acreditam e tendem a ficar violentas quando o que consideram sagrado é violado.

Assim são os que tem medo de se perder ao tentarem experiências que vão contra seus valores morais, sociais e (que consideram) éticos.

A única maneira de se livrar disso é passar um tempo isolado dos seus costumes, das pessoas envolvidas e de você mesmo, inclusive longe da rotina que você usa para se definir. Por exemplo, um gordo tetudo pode ser isolado socialmente mas ele não abandona a imagem que ele tem de si mesmo, ele se fecha em um mundo de ideias, como na Caverna de Platão, e de lá ele julga o planeta de acordo com o que enxerga nas sombras (ou no monitor). É preciso passar alguns meses em ambiente hostil de desconhecido, e se adaptar a ponto de conseguir fazer parte desse ambiente. Ou seja, é preciso, temporariamente, assumir outra personalidade sem relação direta com a primeira, aquela que construímos durante a puberdade. A melhor forma de começar é arranjar um emprego, é por isso que as pessoas amadurecem (ou, para os que estão de fora, mudam/somem/ficam chatas) bastante depois de se firmarem em algum emprego e não terem mais o tempo que tinham antes.

Esse processo acontece com todas as pessoas e elas não costumam perceber, e quando percebem sentem um vazio muito grande, por não mais se verem como se viam anteriormente, ou se o novo ambiente adaptado traz grandes vantagens em relação ao anterior, a pessoa se sente meio perdida mas não sente nem um pouco de saudade da antiga personalidade e se sentem legitimamente felizes com isso, enquanto colocam uma "pedra no passado".

Porém quem consegue ter consciência disso tudo, quando consegue ir ver o mundo lá fora e voltar, sente um vazio imenso. O mundo fica grande demais, e você não consegue mais se ver naquela personalidade firme de antes. Porém, é nessas horas que devemos nos lembrar: a personalidade é opcional.

Uma dica que dou depois que tudo isso acontecer é adotar a mesma personalidade para o mesmo grupo de pessoas, ter em mente de forma bem clara QUEM VOCÊ QUER SER. Dessa forma as pessoas saberão quais expectativas criar de você, e você saberá melhor como lidar com as situações, e vai decepcionar uma quantidade menor de pessoas quando tiver que tomar uma decisão difícil, afinal a vida muda sempre e sempre exige mais do que você tem disponível no momento, precisando agir de formas que antes não precisava nem pensar a respeito. Quando isso acontecer, use seus valores e o "quem você quer ser" para se guiar, e tudo correrá bem.

One Week



Sábado cheguei a casa por volta de 7:00h da manhã, a noite havia sido maravilhosa, conseguira aquela guria que eu estava desejando havia muito tempo, morena e sem limites. Marcos mal sabia que eu tinha conquistado esse feito, e eu mal esperava o momento de contar para ele.
Estavam todos na mesa em silêncio, quase todos na verdade, Jonas estava no quarto chorando, bati bem as botas no tapete de metal entrelaçado e depois as tirei para não sujar a casa que aparentava ter sido recém limpa, quando passei pela mesa fugi minha visão dos olhos que me fuzilavam, certamente era algo que eu tinha feito de errado, talvez tivessem notado que eu gastara quase o triplo esse mês na conta do celular falando com os brothers, apertei meus passos e tentava focar meu olhar na ponta da meia preta com o dedão furado, quando parecia ter conseguido fugir da ocasião, saindo da sala, meu pai pede para eu voltar porque eles queriam conversar sobre um assunto muito sério. Algo estava errado, disso não havia duvidas.
Ligaram a televisão porque disseram preferir mostrar a notícia do que me falar, procuraram qualquer canal chato de reportagem policial e esperaram sentados no sofá, dessa vez o canal escolhido foi a Orange Tv , eu fiquei em silencia esperando a resposta. Quinze minutos haviam se passado e nada havia aparecido no jornalzinho meia boca, quando de repente meu pai aumenta gradativamente o volume da televisão até que fica no nível 50, era quase o máximo, certamente eu estava ferrado, meu pai nunca havia passado do volume 35.
Isso é uma injustiça, dizia o repórter no telejornal, um aposentado de 75 anos sofre ultraviolência nas ruas de Porto Alegre e morre por demora da ambulância, afirmava convicto o repórter.
Eu não havia feito nada de errado na noite passada que chegasse a esse ponto, nunca poderia fazer isso com um idoso, pelo menos se ele não desse motivo para isso, mas foi quando a reportagem foi mostrada por completa que eu entendi o acontecido.
Sergio Vargas Medeiros estava voltando do supermercado quando foi brutalmente atacado por dois jovens que estavam no local, dizem que não é a primeira vez que esses jovens são vistos lá, assistam agora no vídeo gravado por uma câmera de segurança de uma padaria da esquina.
Minha mãe começa a chorar e tudo fazia muito sentido agora, meu avô estava morto, tinha sido assassinado.
Tomei um banho gelado, me sequei com tanta rispidez que não notei nem a cor da toalha que eu usara, coloquei a primeira roupa escura que vi e fomos ao enterro.
As 18:00h fui com o Marcos para casa dele, tive que levar o Jonas porque meus pais tinham que resolver uns assuntos do velório e gastos de dinheiro, infelizmente minha mãe era filha única e tudo dependia dela. Marcos falava indignado que não acreditava ainda que aquilo tivesse acontecido, eu somente pedi para não tocar mais no assunto, pois Jonas já havia chorado demais e eu não queria mais ver aquilo.
Na segunda-feira levantei às 9 horas, troquei de roupa e fui para academia, depois que eu fui lá a primeira vez, nunca mais quis parar de ir, era um lugar simplesmente maravilhoso, ninguém estava nem ai comigo, eu poderia fazer o que quiser, levantar o peso que quiser, simplesmente respeitando os limites do meu próprio corpo. Era dia de Boxe, coloquei minhas luvas e comecei a soquear a Pêra, imaginava que aquela bola de couro era a cabeça daqueles vagabundos, tentei me acalmar e me sentei esperando o treinador chegar, Marcos chegou antes, sentou do meu lado, mas só estava de ataduras, pois recém havia começado a lutar boxe, usava a luva emprestada de alguém.
Hoje era dia de Luva, o Treinador escolhia as duplas e começávamos a lutar, pra variar comecei a lutar com o Marcos, ele estava sempre do meu lado.
Cara, eu to a fim de fazer uma loucura, eu disse.
Aé, vai virar homem? Ele respondeu com cara de idiota.
Dei um soco na cara dele e ri, depois do treino eu te digo o que eu to pensando.
Fomos até minha casa e peguei o jornal, a reportagem sobre meu vô não estava na primeira pagina, na primeira pagina tinha algo relacionado com a chance do aumento da tarifa do ônibus, procurei por todo o jornal e finalmente achei uma nota.
“Aposentado assassinado por punks”
Li toda a nota e fiquei mais tranqüilo. Logo depois levei o Jonas na escola e no caminho passei pelo brechó da Tia Alzira, uma velha amiga da minha mãe que vendia de tudo, disseram que um dia ela vendeu até a porta da casa dela.
Depois de muito tempo de conversas sobre meu vô, perguntei se tinha algumas roupas do meu tamanho, casacos e tudo mais, rolou até de eu comprar uma bengala, lá realmente tinha muita coisa que ninguém nunca precisava, mas no final das contas tu queria muito ter.
Paguei tudo com um dinheiro que eu tinha ganhado num Campeonato de Truco, eu queria ter guardado pra comprar um prato novo para minha bateria, mas aquilo era muito mais importante.
Conversei com Marcos a tarde inteira e depois dele ir embora eu tomei um banho e entrei na internet, na rede social em que eu acessava ninguém falava do assunto, eu não havia contado pra ninguém do ocorrido. Marjorie havia me adicionado e junto com isso me mandou um recado dizendo “Ta sumido em gatinho”. Não tive muita cabeça pra responder, olhei algumas fotos e então sai.
Pensei um pouco na Marjorie e em como havia sido minha noite na sexta-feira, procurava qualquer assunto que me deixasse um pouco tranqüilo, deitei e tentei dormir cedo, porque no dia seguinte eu teria um longo dia de estudo, começando às 7:00h quando eu acordava.
De repente chegou sexta-feira, fui pra aula, mas sai mais cedo, e também iria ter que faltar uma cadeira que eu tinha de noite naquele dia. Peguei o carro do meu pai emprestado e sai de casa por volta das 19:00h para buscar o Marcos na casa dele, chegando lá, subi e nos vestimos com vários casacos, arrumamos tudo, segundo o espelho estávamos perfeitos.
Andamos de carro por uns vinte e cinto minutos e ficamos dando algumas voltas na quadra, de repente achamos o que estávamos procurando, estacionamos o carro uma ou duas quadras perto dali, não prestei muita atenção porque estava muito ansioso.
Corremos até perto deles e então nos ajeitamos, comecei a andar encurvado e baixei minha cabeça me apoiando quase por total na bengala, andamos bem devagar por alguns minutos quando ouvimos um chamado, sim, era o chamado da liberdade.
Chegando mais perto olhei por um canto do chapéu, Marcos estava um pouco nervoso, mas eu sabia que iria dar tudo certo, a voz estava cada vez mais perto, gritava com raiva e sarcasmo, de repente dois caras param bem na nossa frente, cada um na frente de um de nós, finalmente a hora havia chego.
Onde vocês pensam que vão? Não vão nos dar satisfação seus velhos fedorentos? Disse um deles com ar de graça.
Fiquei quieto e respirei fundo, o cheiro de vinho era insuportável.
Não vão falar nada? Acho que vamos nos divertir de novo hoje senhor Allamo, disse um dos caras, Acho que vamos mesmo senhor Pink, respondeu o outro dando gargalhadas.
Tirei o sobretudo e o chapéu e rapidamente dei um gancho de direita no queixo do idiota, nem deu tempo dele prestar atenção no que estava acontecendo, o outro ficou aterrorizado com o que tinha acontecido, engoliu a risada e catarrou um assustador gemido, Marcos foi mais lento mas não menos certeiro, se levantou e deu um Jab e um Direto na cara do segundo retardado, tudo andou muito rápido, o tempo passa rápido quando estamos nos divertindo, os caras pediram perdão a cada chute na costela que levaram, eu me surpreendi com o desempenho do Marcos, a raiva no seu olhar me dava mais coragem de continuar até o final.
Nada mais restava naquelas pobres almas, somente gemidos e sopros na possa de sangue, falei algumas coisas que estavam guardadas na minha garganta faziam quase uma semana e depois dei uma risada de gratidão. Poucos minutos depois ouço um som de sirenes aumentando em uma velocidade assustadora, olhei para trás e notei que uma viatura de policia estava entrando na rua com velocidade, olhei para o Marcos e demonstrei que não havia imaginado que isso poderia ter acontecido, como eu pude ter esquecido esse detalhe, certamente a policia estava de olho naquele local.
Mão na cabeça vagabundo, grita os policiais, realmente a festa havia terminado.
No dia seguinte, na Orange Tv O repórter sorridente explana a noticia.
“Pegos assassinos de velhos em ação, dessa vez escolheram atacar dois jovens bêbados que estavam indo para casa. Mas onde vai parar a nossa Porto Alegre amigo espectador?”