quinta-feira, 31 de maio de 2012

Aos meus 15 anos


Viva
não pense em quando as coisas vão mudar
mude-as
não pense que as coisas melhoram ou pioram
elas apenas existem
não pense no que irá se tornar
apenas se torne
não pense que será mais atraente, mais forte, mais gentil
apenas seja
acha o que?
que minhas espinhas doem menos que as tuas?
você apenas começa a suportar mais a dor
e quanto mais você vive
mais você sabe o que é feio, chato e desonroso
muitos irão lhe dar conselhos
irão lhe dar abraços
e sorrisos
apenas viva, garoto
apenas viva.
corte seu cabelo, corra, grite, traia
minta
ouça os mais velhos, eles sabem do que falam
quando uma garota te abraça muitas vezes, ela não quer ser só sua amiga
antes de beber, pense em como você vai ficar amanhã
leia, leia, leia e leia
exercite-se
respeite as mulheres
não se preocupe com salários, apenas faça o que gosta
viaje, conheça, descubra, erre
depois de ler essa carta, queime-a
beba o quanto puder e não puder
para esquecê-la
é muito chato saber o que virá.


CS

terça-feira, 15 de maio de 2012

Na preguiça, no escuro


Uma ruela escura e com muros dos dois lados. Em cima, no horizonte, prédios gigantes, no lado esquerdo bem iluminado, letreiros imensos “ENCONTRE JESUS” “GANHE DINHEIRO FÁCIL” “VIVA”. No outro lado tudo era escuro, prédios cheios de mofo, sem pintura, letreiros meio apagados e mensagens em lençóis “TRAGO A PESSOA AMADA EM 24 HORAS” “JESUS VOLTARÁ” “MORRA”.

Na frente não havia letreiros, não havia prédios, a ruela dava numa avenida movimentada, um atalho para a casa do namorado, era só atravessar a ruela, apertar o botão e esperar 30 segundos, atravessar a rua e tocar a campainha, pronto, o namorado apertava outro botão, ela subia e era só alegria, muito amor até o outro dia.
Ventava, seus cabelos gritavam pra trás, uma mão no bolso, fumaça saía da boca por culpa do frio escaldante e por ventura do cigarro que agora estava na mão desprotegida do frio, a fumaça saía da boca feito em um trem daqueles antigos. Podia fazer outro caminho que não a ruela, porém este demoraria bem mais e então isso a fez pensar. Pensou e decidiu enfrentar o medo que tinha da ruela escura, pensou e por pensar em poupar dez minutos de caminhada ela decidiu enfrentar a escuridão. Entrou na ruela pisando forte, a bateria o celular acabou, acabou a música. Escutava seus passos batendo nas pedras pequenas, 40 metros de ruela, cara fechada, certo medo e a vontade de sair dela logo. Pensou em voltar e fazer o outro trajeto, mas quando olhou pra trás desistiu, pensou ser bobagem e seguiu em frente. Lá no fim ela enxergava os carros passando rapidamente, alguns ônibus, buzinas e pessoas cruzavam na frente da ruela, seguia com passos firmes, seu único desejo era sair dela logo.
As sombras cruzavam lá na frente e isso não tinha importância alguma, não tinha importância alguma até que uma das sombras entrou na ruela. Era homem, parecia ser grande e estava encapuzado.
Na cabeça passava apenas o pensamento de que algo muito ruim poderia acontecer, poderia ser estuprada, morta, roubada. Ser roubada era o de menos, só queria sair da ruela, ver o namorado e sair sem maiores estragos.
O tempo passava rápido, os carros zuniam, os passos apertaram, só queria cruzar com o elemento e sair logo da ruela, era passo passo passo, também já podia ouvir os passos dele, tudo voava, os letreiros piscavam loucamente, os lençóis balançavam, as sombras rasgavam lá na frente.
A respiração se tornara ofegante, o cigarro acabou, a música acabou, o coração prestes a explodir e então tudo para, o sujeito cruza pela sua esquerda e nem olhou pra ela. Alívio, agora faltava pouco para o fim da ruela e se desfez da preocupação, ufa. Soltou a respiração que estava presa e pensou pronto, agora é só questão de minutos pra sair desse lugar.
Então escutou passos atrás, tudo volta, coração dispara, carros zunem, letreiros gritam, lençóis se batem, sobras rasgam, o cigarro acabou e a musica parou. Olhou pra trás apavorada e lá estava o rapaz encapuzado novamente, agora ele a olhava e também falava “Seguinte guria, não grita, não faz nada que tu vai fica bem, só me passa o dinheiro e o celular”
Ela não conseguia pensar, estava tomada pelo medo, se virou e tentou correr, avançou uns metros, estava quase na rua movimentada, os carros agora cruzavam mais pertos, a casa do namorado estava mais perto, já conseguia enxergar o botão que tem que apertar pra cruzar a rua e quando foi gritar uma mão na boca a impediu, se debateu, o casaco de couro cedeu pra um material prateado, se deixou entrar, o casaco de couro que não é couro de verdade, tem cor azul e cedeu, deixou entrar, a camiseta por baixo do casaco fez o mesmo, cedeu e deixou entrar, a pele macia da barriga entrou na dança e também o fez, cedeu e então veio a dor, ela caiu, mais uma vez a faca entrou, em outro lugar agora, mas o casaco, a camiseta e a pele repetiram sua atuação de uns segundos atrás e cederam.
Era isso, era o fim, a cabeça se foi pra esquerda, viu os carros agora cruzando lentamente, o botão, a casa do namorado conseguiu imaginar e até mesmo se viu lá, apertando o interfone.
Sentiu as mãos do sujeito pegando suas coisas, ele levou o cigarro e o celular, deu uns passos e voltou, procurou no bolso da calça e achou a carteira e o isqueiro e ai sim se foi, ela o viu correndo até o fim da ruela e entrando na paralela com a rua movimentada. Não tinha forças para algum grito ou caminhada, deitou a cabeça pra trás, pensou nos passos que faltavam pro fim da rua, no namorado, na vida toda pela frente, na vida toda para trás. Pensou então no rasgo na pele, passou a mão pela barriga e ergueu-a até poder ver, estava cheia de sangue. A vista por uns instantes se fechou e quando se abriram ela olhava diretamente para o letreiro meio apagado que estava no prédio no horizonte escuro a sua frente. No letreiro estava escrito “MORRA”. E então, ela assim o fez.


 MA

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Jovem Poeta

Um velho senhor
Um jovem poeta
Escrevia uma carta
A sua linda neta


A cada palavra
Uma lembrança
Descrevia o velho
Para a jovem criança


Olhava para o lado
Com um pouco de medo
Pois daquela caneta
Saía alguma segredo


Contava para a menina
Coisas do passado 
Aproximando mais a vela
Com o olho já cansado


Finalizando a carta
A fechou com cuidado
Se deitou na cama
Com o braço apoiado


Lembrava da falecida esposa
Dos já maduros filhos
E o trem já freava
Com o termino dos trilhos


Se deitou por completo
E o frio repentino
Sua vida foi boa
Aceitou seu destino


A neta no quarto entrou
Olhou o velho deitado
Se segurou no bidê
Que estava bem ao lado


Em cima do bidê
Havia uma folha
Muito assustada
Só havia uma escolha


A menina segurou a carta
E lembrava do jovem poeta
Mas nada entendeu
Pois era analfabeta


CA

sábado, 12 de maio de 2012

Banco da praça


Você está sentado, ouvindo suas músicas preferidas no fone de ouvido, vendo o tempo passar.Então eles chegam, um casal, mais ou menos da sua idade. Ficam trocando olhares carinhosos, um segura a mão do outro, se abraçam, estão em seu próprio mundo de carinho... e você está lá do lado...poucos passos. Você tenta não olhar, fingi não ligar, é só você e seu fone, sempre foi assim.Mas é inevitável... você começa a pensar... você começa a lembrar que eles não são os únicos. Seus amigos também estão assim, por onde você olha tem duas pessoas compartilhando carinho. Durante toda a sua vida sempre tinha um casal...e você não estava nele. Aí você pega seu velho escudo enferrujado, fica falando pra si mesmo em sua cabeça as idiotices que um cara tem que fazer para conseguir o afeto de uma garota, fica lembrando de todas as vezes que seus amigos fizeram papel de idiota e como é patético o comportamento de um casal meloso. Sim, você é o senhor coração de rocha, sem sentimentos, intocável... mas até quando?Uma hora sempre bate aquela dúvida, aquela que te faz ficar pensando a tarde inteira, que te faz ficar longe dos amigos, que te faz abraçar o travesseiro na noite."O que está errado?" Aí você está pensando "por que não eu?"Por que não é você o cara que está em um banco sentado com alguém, conversando, vendo o maldito tempo passar?"O que tem de errado em mim?"Você então lembra do passado, lembra de quando achava que era um cara engraçado, lembra de quando achava que tinha verdadeiros amigos, lembra de quando já chegou perto de estar dentro desse mundo. Lembra das garotas que mais chegaram perto do seu intimo, aquelas garotas que sempre deram risadas de suas piadas copiadas de um amigo de outro grupo social, que sempre conversavam com você sobre os seus assuntos idiotas. Você achava que eram elas, então você ia atrás delas, que nem um cachorrinho.Porém, você nunca chegou lá, nunca deu um beijo que você iria facilmente esquecer por ser tão normal nelas, nunca chegou na sala de alguma delas e viu a garota sair correndo em sua direção, te abraçar e falar pras amigas "Tchau, gente! Tenho que ir". Você sempre quebrou a cara com elas. Foi sempre assim, um dia alguma delas saia do seu lado e ia correndo abraçar um outro cara, um cara que ela conhece não faz nem duas semanas, um estranho pra você. Elas olhavam pra você por cima do ombro dele e você não podia fazer nada mais do que dar aquele sorriso forçado que já te faz um profissional em algo na vida.Em parte, foram essas garotas que te fizeram assim. Foi com essas experiências que você criou os seus conceitos perfeitos e infalíveis sobre mulheres. Aí você volta ao presente. Mas continua pensando "o que tem de errado em mim? Sou feio? não sou engraçado? não tenho estilo? não tenho dinheiro? não sou uma boa pessoa?"Você sempre se perguntou isso, estava sempre querendo saber qual era a equação perfeita ou, pelo menos, o que te faria conseguir. Festas, danças, se enturmar com várias pessoas... você tenta, mas falha como sempre. Foram tantas as vezes em que você estava cercado de pessoas em um ambiente desconhecido, ao mesmo tempo em que você se sentia bem, você sabia de alguma forma que aquele não era o seu lugar, que você não fazia a mínima diferença lá. Aí você percebe. Você não faz diferença. Você é tão comum e tão sem graça que ninguém se importa se você está lá ou não.Não faz diferença se você vai pra festa, não faz diferença se você vai pra aula, não faz diferença se você estava nas grandes férias na praia, não faz diferença se você ou outra pessoa pegou a caneta dela.Ninguém liga... e você sabe bem disso.O casal sai do seu lado. Agora você pode olhar para onde quiser, não tem mais que ficar olhando pra esquerda, como se estivesse esperando um amigo que vai te encontrar e conversar com você... você sabe que isso não vai acontecer. Aí a bateria do mp3 acaba e você fica sem música.


PJ

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ir para uma aula chata de manhã


Começando o processo já em casa, é necessário ter dormido apenas algumas horas, ficar adiantando o despertador e olhando para o teto do seu quarto condenando a si mesmo por todos os erros cometidos em sua vida, fique assim por alguns minutos e quando você aceitar a condição de que irá sair do seu lindo e aconchegante leito, vá se arrumar.Abra a porta do guarda-roupa, perceba que ele vai estar mais interessante, você vai prestar atenção na quantidade de roupas que você possui, quantidade de calçados, nesse momento até a porta de seu guarda roupa se torna interessante, escolha com sabedoria suas roupas, aquele casaco grandão para agüentar esse rigoroso frio do sul cabe muito bem nessas horas, terminando de se arrumar, vá ao banheiro lavar seu rosto e escovar os dentes, olhe fixamente para o espelho e diga a si mesmo ‘’vai passar, você sabe, semestre que vem você não precisa mais agüentar isso, vai passar, cara.’’Não tome café, isso é essencial no plano, coma algo e vá pegar seu ônibus .Fique em pé no ônibus para não sentir sono, pense na desgraça que lhe vem pela frente, pense na vida, olhe as variações e formas de árvores que existem no trajeto, quando você chegar no campus, desça do ônibus, respire aquele ar puro e acadêmico que lhe adentra as entranhas e comece a caminhar em direção a sua sala de aula.Ande pelos corredores do prédio do seu curso, veja como as pessoas que entram nas salas estão felizes, menos você e os seus colegas, pois você está indo para aquela aula que ninguém gostaria de estar, aquela aula que ao pisar na sala você sente uma força imensa lhe puxando para desistir da vida. Entre na sala, olhe como as pessoas estão pálidas e sonolentas, elas se perguntam como você teve coragem de entrar na sala. Olhe bem na cara de cada aluno e por final olhe para seu professor, você observa atentamente e percebe que nem mesmo o professor gostaria de estar ali, ele preferia ver tinta secar a dar essa aula insuportável para tantos, porém necessária. Feito todos  esses passos, caminhe lentamente em direção a sua classe reservada no final da sala junto com seus colegas tão desinteressados na aula quanto você, após se acomodar na cadeira, eleve seus braços a sua frente, cruzando-os; apóie sua cabeça neles, feche os olhos e espere o sono vir. Cuide para que seus membros não fiquem dormentes.



PJ

domingo, 29 de abril de 2012

Poeminha


Proferi palavras pérfidas preterindo paixões
Pálidas, presentes... promíscuas, podres... piores...
Putarias perfiladas... priorizando palavrões
Permiti-me pegar pesado... patife
Pensei pouco, pois
Pobre princesa...

Perdi palácios, poesia, prazer...
Pedi perdão...
Perdi Você...
... por quê?
Por nada não
Só pra brincar com a letra Pê!



BS

Convite


Arte é sorte
Arte é morte
Arte é vida em toda parte

Arte é voz
Arte é luz
É a estrela do meu norte

E se um dia no querer-te
Sufocando a dor do forte
Minha Arte convidar-te ao passeio mais bonito
Te direi que minha Arte não se sangra só no corte
Minha Arte vai ao céu muito acima do estandarte
E reflete o meu desejo de alcançar o infinito


BS