sábado, 12 de maio de 2012

Banco da praça


Você está sentado, ouvindo suas músicas preferidas no fone de ouvido, vendo o tempo passar.Então eles chegam, um casal, mais ou menos da sua idade. Ficam trocando olhares carinhosos, um segura a mão do outro, se abraçam, estão em seu próprio mundo de carinho... e você está lá do lado...poucos passos. Você tenta não olhar, fingi não ligar, é só você e seu fone, sempre foi assim.Mas é inevitável... você começa a pensar... você começa a lembrar que eles não são os únicos. Seus amigos também estão assim, por onde você olha tem duas pessoas compartilhando carinho. Durante toda a sua vida sempre tinha um casal...e você não estava nele. Aí você pega seu velho escudo enferrujado, fica falando pra si mesmo em sua cabeça as idiotices que um cara tem que fazer para conseguir o afeto de uma garota, fica lembrando de todas as vezes que seus amigos fizeram papel de idiota e como é patético o comportamento de um casal meloso. Sim, você é o senhor coração de rocha, sem sentimentos, intocável... mas até quando?Uma hora sempre bate aquela dúvida, aquela que te faz ficar pensando a tarde inteira, que te faz ficar longe dos amigos, que te faz abraçar o travesseiro na noite."O que está errado?" Aí você está pensando "por que não eu?"Por que não é você o cara que está em um banco sentado com alguém, conversando, vendo o maldito tempo passar?"O que tem de errado em mim?"Você então lembra do passado, lembra de quando achava que era um cara engraçado, lembra de quando achava que tinha verdadeiros amigos, lembra de quando já chegou perto de estar dentro desse mundo. Lembra das garotas que mais chegaram perto do seu intimo, aquelas garotas que sempre deram risadas de suas piadas copiadas de um amigo de outro grupo social, que sempre conversavam com você sobre os seus assuntos idiotas. Você achava que eram elas, então você ia atrás delas, que nem um cachorrinho.Porém, você nunca chegou lá, nunca deu um beijo que você iria facilmente esquecer por ser tão normal nelas, nunca chegou na sala de alguma delas e viu a garota sair correndo em sua direção, te abraçar e falar pras amigas "Tchau, gente! Tenho que ir". Você sempre quebrou a cara com elas. Foi sempre assim, um dia alguma delas saia do seu lado e ia correndo abraçar um outro cara, um cara que ela conhece não faz nem duas semanas, um estranho pra você. Elas olhavam pra você por cima do ombro dele e você não podia fazer nada mais do que dar aquele sorriso forçado que já te faz um profissional em algo na vida.Em parte, foram essas garotas que te fizeram assim. Foi com essas experiências que você criou os seus conceitos perfeitos e infalíveis sobre mulheres. Aí você volta ao presente. Mas continua pensando "o que tem de errado em mim? Sou feio? não sou engraçado? não tenho estilo? não tenho dinheiro? não sou uma boa pessoa?"Você sempre se perguntou isso, estava sempre querendo saber qual era a equação perfeita ou, pelo menos, o que te faria conseguir. Festas, danças, se enturmar com várias pessoas... você tenta, mas falha como sempre. Foram tantas as vezes em que você estava cercado de pessoas em um ambiente desconhecido, ao mesmo tempo em que você se sentia bem, você sabia de alguma forma que aquele não era o seu lugar, que você não fazia a mínima diferença lá. Aí você percebe. Você não faz diferença. Você é tão comum e tão sem graça que ninguém se importa se você está lá ou não.Não faz diferença se você vai pra festa, não faz diferença se você vai pra aula, não faz diferença se você estava nas grandes férias na praia, não faz diferença se você ou outra pessoa pegou a caneta dela.Ninguém liga... e você sabe bem disso.O casal sai do seu lado. Agora você pode olhar para onde quiser, não tem mais que ficar olhando pra esquerda, como se estivesse esperando um amigo que vai te encontrar e conversar com você... você sabe que isso não vai acontecer. Aí a bateria do mp3 acaba e você fica sem música.


PJ

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