quarta-feira, 25 de abril de 2012

One Week



Sábado cheguei a casa por volta de 7:00h da manhã, a noite havia sido maravilhosa, conseguira aquela guria que eu estava desejando havia muito tempo, morena e sem limites. Marcos mal sabia que eu tinha conquistado esse feito, e eu mal esperava o momento de contar para ele.
Estavam todos na mesa em silêncio, quase todos na verdade, Jonas estava no quarto chorando, bati bem as botas no tapete de metal entrelaçado e depois as tirei para não sujar a casa que aparentava ter sido recém limpa, quando passei pela mesa fugi minha visão dos olhos que me fuzilavam, certamente era algo que eu tinha feito de errado, talvez tivessem notado que eu gastara quase o triplo esse mês na conta do celular falando com os brothers, apertei meus passos e tentava focar meu olhar na ponta da meia preta com o dedão furado, quando parecia ter conseguido fugir da ocasião, saindo da sala, meu pai pede para eu voltar porque eles queriam conversar sobre um assunto muito sério. Algo estava errado, disso não havia duvidas.
Ligaram a televisão porque disseram preferir mostrar a notícia do que me falar, procuraram qualquer canal chato de reportagem policial e esperaram sentados no sofá, dessa vez o canal escolhido foi a Orange Tv , eu fiquei em silencia esperando a resposta. Quinze minutos haviam se passado e nada havia aparecido no jornalzinho meia boca, quando de repente meu pai aumenta gradativamente o volume da televisão até que fica no nível 50, era quase o máximo, certamente eu estava ferrado, meu pai nunca havia passado do volume 35.
Isso é uma injustiça, dizia o repórter no telejornal, um aposentado de 75 anos sofre ultraviolência nas ruas de Porto Alegre e morre por demora da ambulância, afirmava convicto o repórter.
Eu não havia feito nada de errado na noite passada que chegasse a esse ponto, nunca poderia fazer isso com um idoso, pelo menos se ele não desse motivo para isso, mas foi quando a reportagem foi mostrada por completa que eu entendi o acontecido.
Sergio Vargas Medeiros estava voltando do supermercado quando foi brutalmente atacado por dois jovens que estavam no local, dizem que não é a primeira vez que esses jovens são vistos lá, assistam agora no vídeo gravado por uma câmera de segurança de uma padaria da esquina.
Minha mãe começa a chorar e tudo fazia muito sentido agora, meu avô estava morto, tinha sido assassinado.
Tomei um banho gelado, me sequei com tanta rispidez que não notei nem a cor da toalha que eu usara, coloquei a primeira roupa escura que vi e fomos ao enterro.
As 18:00h fui com o Marcos para casa dele, tive que levar o Jonas porque meus pais tinham que resolver uns assuntos do velório e gastos de dinheiro, infelizmente minha mãe era filha única e tudo dependia dela. Marcos falava indignado que não acreditava ainda que aquilo tivesse acontecido, eu somente pedi para não tocar mais no assunto, pois Jonas já havia chorado demais e eu não queria mais ver aquilo.
Na segunda-feira levantei às 9 horas, troquei de roupa e fui para academia, depois que eu fui lá a primeira vez, nunca mais quis parar de ir, era um lugar simplesmente maravilhoso, ninguém estava nem ai comigo, eu poderia fazer o que quiser, levantar o peso que quiser, simplesmente respeitando os limites do meu próprio corpo. Era dia de Boxe, coloquei minhas luvas e comecei a soquear a Pêra, imaginava que aquela bola de couro era a cabeça daqueles vagabundos, tentei me acalmar e me sentei esperando o treinador chegar, Marcos chegou antes, sentou do meu lado, mas só estava de ataduras, pois recém havia começado a lutar boxe, usava a luva emprestada de alguém.
Hoje era dia de Luva, o Treinador escolhia as duplas e começávamos a lutar, pra variar comecei a lutar com o Marcos, ele estava sempre do meu lado.
Cara, eu to a fim de fazer uma loucura, eu disse.
Aé, vai virar homem? Ele respondeu com cara de idiota.
Dei um soco na cara dele e ri, depois do treino eu te digo o que eu to pensando.
Fomos até minha casa e peguei o jornal, a reportagem sobre meu vô não estava na primeira pagina, na primeira pagina tinha algo relacionado com a chance do aumento da tarifa do ônibus, procurei por todo o jornal e finalmente achei uma nota.
“Aposentado assassinado por punks”
Li toda a nota e fiquei mais tranqüilo. Logo depois levei o Jonas na escola e no caminho passei pelo brechó da Tia Alzira, uma velha amiga da minha mãe que vendia de tudo, disseram que um dia ela vendeu até a porta da casa dela.
Depois de muito tempo de conversas sobre meu vô, perguntei se tinha algumas roupas do meu tamanho, casacos e tudo mais, rolou até de eu comprar uma bengala, lá realmente tinha muita coisa que ninguém nunca precisava, mas no final das contas tu queria muito ter.
Paguei tudo com um dinheiro que eu tinha ganhado num Campeonato de Truco, eu queria ter guardado pra comprar um prato novo para minha bateria, mas aquilo era muito mais importante.
Conversei com Marcos a tarde inteira e depois dele ir embora eu tomei um banho e entrei na internet, na rede social em que eu acessava ninguém falava do assunto, eu não havia contado pra ninguém do ocorrido. Marjorie havia me adicionado e junto com isso me mandou um recado dizendo “Ta sumido em gatinho”. Não tive muita cabeça pra responder, olhei algumas fotos e então sai.
Pensei um pouco na Marjorie e em como havia sido minha noite na sexta-feira, procurava qualquer assunto que me deixasse um pouco tranqüilo, deitei e tentei dormir cedo, porque no dia seguinte eu teria um longo dia de estudo, começando às 7:00h quando eu acordava.
De repente chegou sexta-feira, fui pra aula, mas sai mais cedo, e também iria ter que faltar uma cadeira que eu tinha de noite naquele dia. Peguei o carro do meu pai emprestado e sai de casa por volta das 19:00h para buscar o Marcos na casa dele, chegando lá, subi e nos vestimos com vários casacos, arrumamos tudo, segundo o espelho estávamos perfeitos.
Andamos de carro por uns vinte e cinto minutos e ficamos dando algumas voltas na quadra, de repente achamos o que estávamos procurando, estacionamos o carro uma ou duas quadras perto dali, não prestei muita atenção porque estava muito ansioso.
Corremos até perto deles e então nos ajeitamos, comecei a andar encurvado e baixei minha cabeça me apoiando quase por total na bengala, andamos bem devagar por alguns minutos quando ouvimos um chamado, sim, era o chamado da liberdade.
Chegando mais perto olhei por um canto do chapéu, Marcos estava um pouco nervoso, mas eu sabia que iria dar tudo certo, a voz estava cada vez mais perto, gritava com raiva e sarcasmo, de repente dois caras param bem na nossa frente, cada um na frente de um de nós, finalmente a hora havia chego.
Onde vocês pensam que vão? Não vão nos dar satisfação seus velhos fedorentos? Disse um deles com ar de graça.
Fiquei quieto e respirei fundo, o cheiro de vinho era insuportável.
Não vão falar nada? Acho que vamos nos divertir de novo hoje senhor Allamo, disse um dos caras, Acho que vamos mesmo senhor Pink, respondeu o outro dando gargalhadas.
Tirei o sobretudo e o chapéu e rapidamente dei um gancho de direita no queixo do idiota, nem deu tempo dele prestar atenção no que estava acontecendo, o outro ficou aterrorizado com o que tinha acontecido, engoliu a risada e catarrou um assustador gemido, Marcos foi mais lento mas não menos certeiro, se levantou e deu um Jab e um Direto na cara do segundo retardado, tudo andou muito rápido, o tempo passa rápido quando estamos nos divertindo, os caras pediram perdão a cada chute na costela que levaram, eu me surpreendi com o desempenho do Marcos, a raiva no seu olhar me dava mais coragem de continuar até o final.
Nada mais restava naquelas pobres almas, somente gemidos e sopros na possa de sangue, falei algumas coisas que estavam guardadas na minha garganta faziam quase uma semana e depois dei uma risada de gratidão. Poucos minutos depois ouço um som de sirenes aumentando em uma velocidade assustadora, olhei para trás e notei que uma viatura de policia estava entrando na rua com velocidade, olhei para o Marcos e demonstrei que não havia imaginado que isso poderia ter acontecido, como eu pude ter esquecido esse detalhe, certamente a policia estava de olho naquele local.
Mão na cabeça vagabundo, grita os policiais, realmente a festa havia terminado.
No dia seguinte, na Orange Tv O repórter sorridente explana a noticia.
“Pegos assassinos de velhos em ação, dessa vez escolheram atacar dois jovens bêbados que estavam indo para casa. Mas onde vai parar a nossa Porto Alegre amigo espectador?”

Um comentário:

  1. emocionante. há tempos não leio uma boa dessas.
    se forem fatos, parabéns.
    se forem ideias, que não faltam executores por aí.

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